A relação entre o uso do BIM e a gestão pública é particularmente estreita em todos os países onde a plataforma foi adotada na indústria construtiva.
No Brasil, esse relacionamento tende a ser igual uma vez que decretos governamentais estão levando à adoção da metodologia em alguns de seus órgãos públicos.
Mais do que isso: o BIM pode ajudar a melhorar o entendimento do servidor público no formato correto, desde o planejamento para contratação de obras ou infraestrutura e cuidar melhor do recurso público durante o processo, além de colocar a roda da economia para girar de modo correto no setor público do país. O uso dessa metodologia é muito importante para o fortalecimento das instituições públicas.
Entenda melhor nesse post.
Por que a gestão pública em vários países estimula o BIM?
Antes de falar sobre países que adotaram essa inovadora plataforma de trabalho colaborativa do setor AECO, vamos recapitular o que é BIM, que também pode ser definido como uma das maiores evoluções já vistas na indústria da Arquitetura, Engenharia, Construção e Operações (manutenção predial).
Amparado nos pilares pessoas, processos e tecnologia, o Building Information Modeling é uma metodologia que assegura um processo de trabalho inteligente amparado em um modelo único tridimensional.
No entanto, é preciso incluir também um embasamento para esses pilares com o tópico “Políticas”, que serão necessárias para regulamentar os princípios e regras do uso da metodologia.
Com o processo BIM, todas as disciplinas envolvidas na indústria da construção e operações terão ferramentas tecnológicas para planejar, projetar, construir, gerenciar e operar obras de infraestrutura e edificações comerciais ou residenciais. Isso significa que, além de um melhor projeto arquitetônico, a plataforma permite também a elaboração de projetos complementares e estruturais compatíveis com o design.
Em vários países do mundo, o BIM foi adotado como forma de melhorar a eficiência e sustentabilidade, com ganhos financeiros para o setor. Na maioria desses locais, a adoção foi amparada por decretos governamentais que estimularam o uso da plataforma como forma de modernizar o segmento, que é um dos que geram mais impacto ambiental no mundo e também estava atrás de vários outros setores no aspecto da transformação digital.
Os ganhos certos com a adoção do BIM são:
- Design mais aprimorado e detalhamento visual rico;
- Alta precisão de informações em todo o ciclo de vida do projeto;
- Métodos inovadores para fluxo de trabalho;
- Simulações realistas para variados cenários e propostas de soluções adequadas antes de qualquer conflito;
- Análises de desempenho em todas as disciplinas;
- Maior sustentabilidade financeira e ambiental do projeto;
- Maior controle de orçamentos (inclusive com simplificação dos cálculos de obras);
- Entregas de obras dentro de prazos previstos;
- Compatibilização de projetos;
- Transparência na contabilidade dos gastos;
- Possibilita maior nível de entendimento para clientes, etc.
Quais países lideram a adoção do BIM no setor AECO?
Com a crescente urbanização das cidades, muitos países resolveram apostar na modernização da indústria construtiva com a adoção do BIM em suas edificações, porque viram na plataforma uma possibilidade de mais agilidade para o setor, produtividade, colaboração remota e melhor planejamento, além do uso mais transparente do dinheiro público. Vamos citar alguns:
Reino Unido
Líder na adoção do BIM com estímulo da gestão pública, o Reino Unido adota o BIM em projetos públicos desde 2016.
Após comprovar grandes benefícios, mais recentemente, o governo do Reino Unido também tornou obrigatório para empreiteiros e construtores a implementação do BIM em todos os projetos residenciais, motivado especialmente por questões de segurança.
Países escandinavos
Em todos os países da região escandinava há mandatos para uso do BIM nos projetos públicos com alto nível de adoção. Na Finlândia, por exemplo, o uso do BIM em projetos públicos já ocorre desde 2002.
Já na Dinamarca, além do governo também ter estimulado o uso da plataforma, as universidades investem na educação na plataforma desde 2006.
Itália
Em 1o dezembro de 2018, o Ministério da Infraestrutura e Transporte da Itália assinou o Decreto BIM, com a intenção de tornar a metodologia obrigatória em todos os novos projetos de infraestrutura em grande escala e edifícios públicos.
A adoção progressiva começou em 2019 para obras com valor igual ou superior a 100 milhões de euros.
De acordo com as disposições do decreto, a partir de 2025, o BIM deverá ser utilizado em todas as obras públicas italianas.
Emirados árabes
A indústria da construção nos Emirados Árabes também vem adotando cada vez mais o BIM. Em Dubai, já havia uma exigência da gestão pública para o uso do BIM desde 2013. Em uma pesquisa de 2015, 87% dos profissionais do setor revelaram que faziam uso do BIM em seus projetos.
Na América Latina
Além do Brasil, vários países, como Argentina, Chile, Costa Rica, Colômbia, Uruguai e Peru estão se mobilizando para uso do BIM por meio de decretos governamentais com o objetivo de melhorar a eficiência da operação e manutenção, melhorar a qualidade das obras e promover mais transparência no que se refere aos investimentos públicos.
No Peru, por exemplo, o uso do BIM faz parte do Plano Nacional de Competitividade e Produtividade 2019-2030.
Na Costa Rica, a divulgação do uso do BIM aponta uma economia de até 90% do orçamento de contingência, que, normalmente, varia de 2% a 10% do orçamento total de uma obra. Além disso, também aponta que o BIM melhora a produtividade de 20% a 30% .
Já no Chile, que é um país que está avançado no uso do BIM na América Latina, o jornal Tecnologia da Informação na Construção aponta que a metodologia garante 41% a mais de rentabilidade nos projetos.
EUA
Nos EUA, o BIM já vem sendo adotado de forma gradual desde 1990 e com bons resultados, mas, embora nem todos os estados tenham adotado a plataforma em projetos públicos, no estado de Wisconsin, por exemplo, o BIM é obrigatório em obras públicas que tenham orçamento acima de US$ 5 milhões.
CIM: o BIM em larga escala
Algumas cidades desses países, como Montreal, Dubai, Singapura, Song Do e Oslo também já começaram a fazer uso do CIM (City Information Modeling, que está totalmente ligado à gestão pública e tem as mesmas bases da modelagem da construção, só que é utilizado para grande escala, contemplando basicamente um urbanismo mais eficiente.
É também uma modernização sem precedentes, que possibilita grandes benefícios para todos os agentes públicos de uma cidade, como a integração de setores.
BIM e a gestão pública no Brasil
No Brasil, o estímulo governamental para adoção do BIM nas obras públicas começou efetivamente com a publicação de um decreto em 2018, que sofreu alterações em 2019. Neste ano, em abril, um novo decreto foi publicado, reforçando o uso do BIM impreterivelmente a partir de janeiro de 2021 em etapas e em algumas obras públicas.
No decreto Decreto 10.306/2020 ficou estipulado que o BIM será implementado nas novas obras e reformas das edificações dos Ministérios da Infraestrutura e Defesa. No próprio decreto também foi aberto espaço para outros órgãos públicos que queiram utilizar a plataforma.
Além disso, foi nomeada também a Frente Parlamentar BIM, que está articulando alterações na Lei 8.666 que controla as licitações públicas a fim de tornar o BIM obrigatório aos projetos e obras do Governo.
A implementação do Decreto BIM no país é um reconhecimento do governo e órgãos reguladores que a plataforma possibilita agilidade porque reduz tempo de obra e burocracia, além de ser uma forma de garantir mais inovação, produtividade e transparência, especialmente para os projetos de grande porte do governo.
Adaptação das equipes de desenvolvimento
É importante verificar que a indicação de uso da metodologia pela gestão pública coloca uma lupa sobre a necessidade de adaptar as equipes de desenvolvimento que operam com o poder público, bem como os responsáveis pela gestão do patrimônio público.
O BIM pode ajudar os servidores públicos a entenderem os passos adequados para elaboração do projeto e dos editais de licitação, além de ajudar na otimização da obra em todo o seu ciclo de vida. Como já foi visto, o BIM pode ser usado no setor público desde o âmbito municipal.
É muito importante ter esse conhecimento porque, independentemente do decreto federal, as contratações em BIM já começaram. Segundo levantamento da Alliar Treinamentos, 10% da administração pública já utiliza o BIM. Então, quem começar hoje já está atrasado nessa capacitação.
É preciso compreender todo o percurso da obra a partir dessa nova metodologia para realizar essas licitações, como administrar o contrato da administração e como fazer a governança de uma obra com o BIM.
Com a metodologia, os contratos da administração e dos vários profissionais envolvidos serão diferentes daqueles realizados em AutoCAD, porque são várias entidades trabalhando em conjunto. Por isso, inclusive, também muda a questão dos direitos autorais.
O BIM é uma chance real de ter muitos ganhos dentro da gestão pública, mas também é preciso alguns cuidados para não cair dentro de erros que são típicos no processo de implantação, a começar por acreditar que é só fazer o uso de um novo software.
É muito mais que isso. Mesmo dentro da administração pública, é preciso desenvolver toda uma mentalidade nova, de cultura e de fluxos de trabalho, fazer diagnósticos prévios antes da implantação, treinamentos, aquisição de hardwares e softwares, contratação de consultoria, além de trabalhar um planejamento estratégico para essa implantação.
Enfim, os órgãos públicos precisam entender qual é o escopo, onde querem chegar e tomar as decisões corretas nesse processo de implementação do BIM.
Conclusão
É certo que esse estímulo governamental do uso do BIM no país também vai atingir o setor privado, que terá grande necessidade de ajustes para adoção da metodologia. A implantação e implementação do BIM é um processo complexo, que exige tempo, investimentos e mudanças de mentalidade. Não é possível fazer da noite para o dia, nem para as empresas privadas e nem para a administração pública.