Dnit exigirá nas licitações projetos entregues em BIM
Projetistas e construtoras terão que se adaptar, para participar de concorrências a partir do ano que vem.
Augusto Diniz
O Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) passará a exigir, em edital, a entrega de projeto de engenharia na plataforma BIM (Building Information Modeling; Modelo de Informação da Construção) de projetistas e construtoras que quiserem participar das concorrências feitas pelo órgão de obras rodoviárias. A medida trará mais transparência às contratações.
Em novembro, alguns editais de licitação do Dnit já deverão impor a entrega de projetos em formato eletrônico, na extensão DWG. Até o meio do ano que vem, os editais começarão a exigir a entrega dos projetos em BIM. No final de 2013, além de estarem disponíveis em BIM, os projetos que quiserem concorrer às licitações do órgão também deverão ser georreferenciados eletronicamente.
“Algumas construtoras ainda não utilizam a tecnologia. Por isso, o período de adaptação para que todas se enquadrem no novo modelo de edital”, explica o coronel André Kuhn, coordenador-geral de desenvolvimento e projetos do Dnit. “A equipe do órgão já foi treinada e capacitada para o novo modelo”, complementa o militar, que informa ter 100 pessoas envolvidas no projeto, há um ano em andamento no governo. As superintendências regionais já foram informadas sobre as novas regras.
Trata-se de uma das principais mudanças do governo federal já realizadas nos últimos tempos para a contratação de obras pesadas. O orçamento anual do Dnit gira em torno de R$ 20 bilhões.
A contratação via plataforma BIM deverá envolver tanto os projetos pelo Regime Diferenciado de Contratação (RDC) como pela lei de licitações 8.666. As concorrências do Dnit incluem o Programa de Contratação, Restauração e Manutenção por Resultados (CREMA) e obras de construção. Está sob sua responsabilidade um total de 55,6 mil km de rodovias federais pavimentadas.
Tecnologia de alta precisão
O BIM é capaz de apresentar, em forma eletrônica, detalhada e em tempo real, todo o ciclo de vida de uma construção, da arquitetura à execução final, envolvendo gerenciamento, processos construtivos, fases de trabalho e suas quantificações, orçamento e custo da obra com alta precisão, além de verificação de práticas de sustentabilidade. O precursor do BIM é o 3D, que se concentra na modelagem tridimensional matemática de um projeto.
Já a georreferência é o mapeamento detalhado, em formato eletrônico, da área onde o serviço será executado.
“Com isso, os projetos virão bem detalhados, o que evitará problemas de revisão e aditivos. O pagamento será exato com relação ao projeto. Nem para cima nem para baixo”, destaca Kuhn, que é engenheiro civil. “Gastávamos tempo com análise de projetos e desenvolvimento de anteprojetos. Agora, com a tecnologia, investiremos tempo no nosso trabalho.”
De acordo com Matheus Belin, especialista em simulação tecnológica e que está ao lado de André Kuhn na tarefa de implementar a tecnologia no Dnit, a proposta é tornar o modelo “referência em nível de gestão federal”.
O Dnit pretende realizar eventos pelo País para apresentar a novidade às empresas de construção de infraestrutura, com foco nas construtoras de pequeno e médio portes que nunca trabalharam com a tecnologia.
No governo federal, somente a Petrobras solicita em contrato, com frequência, a entrega de projeto executivo em plataforma BIM. No lado das empresas projetistas e construtoras, o BIM já vem sendo usado largamente na construção de edificações. Porém, no âmbito da infraestrutura, os investimentos na tecnologia são ainda tímidos na iniciativa privada, justamente pela falta de exigência do maior contratante, o governo.
Empresas como a Autodesk, que possui produtos específicos para a área de arquitetura e engenharia, o foco em infraestrutura no Brasil tem sido grande. “Trata-se de uma transformação e mudança de paradigma. Investimos na padronização das normas das soluções de infraestrutura em BIM para atender ao mercado”, expõe o gerente-geral da Autodesk no Brasil, Rui Gatti.
O executivo crê que a educação será fundamental para que o BIM se desenvolva tanto dentro do governo quanto na iniciativa privada. “É preciso qualificar a mão de obra. Isso é parte crítica. Estamos trabalhando nas universidades para preparar os profissionais à nova realidade”, diz Gatti.
A Autodesk vê crescimento elevado de soluções avançadas de infraestrutura, como o BIM, não somente em rodovias, mas também na área de energia e aeroportos.
Denúncias mudaram o órgão
Em junho do ano passado, o Dnit foi alvo de denúncias de superfaturamento que levaram o então ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento, e o diretor-geral do órgão à época, Luiz Antônio Pagot, a deixar os cargos.
O Dnit começou então a ser comandado pelo general Jorge Fraxe, que era o responsável pela Divisão de Obras de Engenharia do Exército. Fraxe levou sete militares de sua confiança para ocupar cargos-chave dentro do órgão.
A ordem da presidente Dilma Rousseff era clara: revisar todos os projetos rodoviários em andamento, moralizar o órgão e tornar mais ágil e confiável as suas licitações, evitando os aditivos contratuais que encarecem as obras já em execução. Na época, Fraxe comentou que havia 104 projetos com problemas.
No entanto, a demora do órgão em retomar as obras na malha rodoviária federal gerou críticas das construtoras, que alegaram que a paralisação dos serviços significou vultosos prejuízos. O Dnit, entretanto, anunciou recentemente um programa de licitações de obras rodoviárias para o segundo semestre deste ano e o primeiro semestre de 2013, com recursos totais de R$ 13,5 bilhões.
quarta-feira, 10 de outubro de 2012
Fonte: Padrão